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TRABALHADORES DE LIMPEZA

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Título

Intervenção Trans/Formativa: Implementando uma Ferrramenta para a Aprendizagem Organizacional  baseada na Teoria da Atividade Histórico-Cultural e na Psicologia da Libertação.

Objetivo geral

Compreender como se dá o processo de implementação da Intervenção Trans/formativa, como possibilidade à uma aprendizagem voltada tanto para a transformação da atividade, quanto para o fortalecimento dos sujeitos da aprendizagem.

Objetivos específicos

– Conhecer as práticas de trabalho (foco na transformação da atividade), e o grupo de zeladoras terceirizadas de uma instituição de ensino superior (foco no fortalecimento do grupo);

– Implementar a Intervenção Trans/formativa, utilizando as bases metodológicas do LM, complementadas com os seguintes elementos para o fortalecimento do grupo: recuperação da memória histórica, resgate das virtudes populares e “desideologização” da experiência cotidiana;

– Identificar as potencialidades e debilidades do modelo reconfigurado.

Relevância da atividade

A relevância do desenvolvimento das atividades deste projeto de extensão encontra-se no fato deste estar vinculado ao projeto de pesquisa “Estudo sobre metodologias de pesquisa intervencionistas fundamentadas nas perspectivas da Teoria da Atividade Histórico-cultural e da Psicologia Social Comunitária Latino-Americana a partir de suas contribuições para os Estudos Organizacionais”; ao projeto de iniciação científica “Estudo Bibliográfico e Bibliométrico sobre Propostas de Metodologias Intervencionistas de Pesquisas da Psicologia Social Comunitária Latino-Americana”; bem como à participação da autora desta proposta como membro do projeto de pesquisa “Compreendendo metodologias de pesquisa intervencionistas, fundamentadas nas perspectivas da Teoria da Atividade Histórico-cultural e da Psicologia Social Comunitária Latino-Americana para os Estudos Organizacionais” (Processo n. 4794/2015 – DAD/UEM). Assim, sua realização justifica-se por se tratar de uma atividade prática de extensão universitária, com base nos pressupostos teóricos pesquisados.

Além disso, fundamenta-se na ideia de que, apesar de questionável, o discurso da mudança está impregnado tanto no meio acadêmico, quanto no organizacional (GREY, 2004). Independente de estar-se vivendo ou não em tempos de mudanças sem precedentes, as organizações buscam constantemente, motivadas por diferentes razões, adaptar-se ao ambiente ao qual estão inseridas, demandando sempre novas soluções, seja de ordem humana ou tecnológica.

No intento de responder a estes anseios, no que se refere à gestão de pessoas, os estudos sobre Aprendizagem Organizacional (AO) tem se constituído de forma multiparadigmática, de modo a compreender como se dá o processo de aprendizagem no contexto organizacional, bem como propor novas formas de contribuir com este processo. Para Godoy, Antonello e Azevedo (2011), as diversas perspectivas utilizadas para olhar o fenômeno expressam essas inquietações, ao mesmo tempo que contribuem para a consolidação e progresso do campo, não dispensando a importância de uma reflexão crítica quanto à forma como se investiga o tema.

O propósito deste estudo, que ainda está em fase de desenvolvimento teórico, é trabalhar a Aprendizagem Organizacional sob a perspectiva da Teoria da Atividade Histórico-Cultural (TAHC), sobretudo no sentido de encontrar uma metodologia que seja capaz de promover ou acelerar a aprendizagem, porém, uma aprendizagem que não contemple tão somente soluções de problemas, mas uma aprendizagem voltada, também, para o sujeito que aprende, pensando numa metodologia que, além de causar mudanças por meio de um grupo, possa, também, causar mudanças no próprio grupo.

Ao propor uma transposição das metodologias intervencionistas para Aprendizagem Organizacional brasileira, Cassandre (2014), afirma que, entre outros ganhos, é possível, que estas metodologias, também, alcancem o sujeito enquanto pessoa, pois, ao serem compreendidos como sujeitos de possibilidade e estimulados por um intervencionista, são capazes de desenvolver sua capacidade de agência e levar esses traços para outros espaços de convivência fora do ambiente organizacional.

Entretanto, diante do potencial das metodologias intervencionistas, acredita-se que contemplar este fator como provável ou possível não seja suficiente, pois esta transformação do sujeito para além do espaço organizacional, poderia não ser tratada de forma despretensiosa ou como uma consequência não planejada. Por que então não prever isto no processo? Por que não aproveitar a potencialidade teórico-metodológica das Metodologias Intervencionistas e, além da aprendizagem para o ambiente de trabalho, prever neste processo uma aprendizagem que possa fortalecer o sujeito em outros aspectos, além dos aspectos técnicos e profissionais?

Trabalhar o indivíduo integralmente, no seu espaço coletivo de trabalho, além da possibilidade de aprendizagem multidisciplinar para este, também poderia contribuir com o processo de aprendizagem organizacional, porque agora o sujeito contribuiria com a organização não apenas porque seria obrigado a isso, ou porque participou de um treinamento específico, mas, porque se sente protagonista não apenas da história da organização, mas da sua própria história de vida, uma vez que valoriza sua trajetória, reconhece suas virtudes e tem noção do seu lugar na sociedade. Esta transformação pessoal ao invés de estar desconectada do processo, poderia ocorrer simultaneamente à sua transformação profissional.

Na tentativa de alcançar este objetivo, a proposta do estudo é incorporar novos elementos à ferramenta teórico-metodológica da Teoria da Atividade Histórico-Cultural, de modo a alcançar esta aprendizagem voltada tanto para a transformação da atividade quanto para a transformação do próprio sujeito. É preciso pensar que, além de simplesmente incorporar novos elementos que satisfaçam este objetivo, esta seria uma oportunidade de adaptar uma ferramenta estrangeira à realidade brasileira, ou pelo menos latino-americana, pois entre as críticas que recebem os estudos organizacionais está a importação e implementação fiel de ferramentas estrangeiras sem a devida consideração a respeito das diferenças culturais, históricas e sociais.

Os estudos organizacionais no Brasil, sofrem forte influência norte-americana (SERVA, 1990; BERTERO e KEINERT, 1994; RODRIGUES e CARRIERI, 2000) e, por isso, parece mais sensato, antes de replicar uma experiência teórico-metodológica proveniente de uma realidade estrangeira, considerar, entre outros aspectos, o tempo social do local em que esta nova experiência será realizada. Daí a importância em interessar-se pela realidade local brasileira, considerar suas lutas e resistências, seu histórico de desenvolvimento e exploração, as características do seu povo e das próprias organizações. Portanto, buscar elementos numa abordagem marcadamente latino-americana como a Psicologia da Libertação, compreendida como um movimento de crítica à Psicologia Social, vinculada a Psicologia Social Comunitária Latino-Americana (PSCLA), além da possibilidade de refinamento da TAHC, justifica-se, também, pela tentativa de suprir esta necessidade de adaptação, no sentido de respeitar o tempo social, a realidade cultural e histórica dos sujeitos envolvidos no processo.

Em suma, se a ideia é trabalhar uma aprendizagem organizacional voltada não somente para o fortalecimento institucional, mas também para o fortalecimento dos sujeitos da aprendizagem, acredita-se que a Teoria da Atividade Histórico-Cultural contenha aparato teórico e metodológico alinhado com a noção de aprendizagem adotada nesse estudo, porém, os elementos da Psicologia da Libertação seriam um complemento importante no exercício de adaptação e refinamento da ferramenta da TAHC.

Quanto às razões que justificam o interesse da presente pesquisa, pode-se destacar no que se refere a relevância teórica, uma tentativa de refinamento da Teoria da Atividade Histórico-Cultural, ao criar uma ponte teórica interdisciplinar (NOGUEIRA & ODELIUS, 2015) com uma abordagem crítica da Psicologia Social. Apesar de ambas abordagens, terem nascido de forma ativista (SANNINO, 2011; GONZÁLES REY, 2009), com interesse de responder a situações de transformação social, também possui entre si outros pontos de contato como: a postura sócio-histórica; a natureza grupal; a primazia da prática em relação à teoria e a primazia do sujeito social sobre o sujeito psicológico.

No entanto, além das semelhanças, existe também uma forma de se complementar teórica e metodologicamente a Teoria da Atividade, de forma que tenha um foco que vá além da atividade que necessita ser repensada e remodelada, pensando também o próprio grupo envolvido, não somente em suas potencialidades para resolver as contradições da atividade, mas também suas próprias contradições, visando uma aprendizagem que ultrapassa o interesse organizacional. Não que o sujeito não seja contemplado na Teoria da Atividade, mas agora o foco não estará somente no sujeito cognitivo e social, mas também em um sujeito político.

Uma segunda justificativa, é a necessidade de consolidação e adaptação das Metodologias Intervencionistas nos estudos organizacionais do Brasil, a fim de construir uma Aprendizagem Organizacional que retrate a realidade histórico-cultural dos trabalhadores e da realidade específica das organizações brasileiras. O trabalho de transposição das Metodologias Intervencionistas para a Aprendizagem Organizacional, iniciado em 2011 no Brasil, tem avançado significativamente à medida que constrói experiências de aprendizagem por meio da utilização da meta-ferramenta Laboratório de Mudança, como mostra o exemplo do trabalho realizado em um Hospital Universitário localizado no Estado do Paraná (ver CASSANDRE, PEREIRA-QUEROL & SENGER, 2014; CASSANDRE, SENGER & PEREIRA- QUEROL, 2015).

Assim como estão ocorrendo aplicações e variações do Laboratório de Mudança, além da Finlândia, em diversos países e em diferentes atividades produtivas como: agricultura, telecomunicações, serviços bancários e postais (PEREIRA-QUEROL et al., 2011), é preciso também que hajam novas experiências no Brasil para que se conheça e se desenvolva as potencialidades das MI, ao mesmo tempo que contribua com o avanço teórico-metodológico de uma aprendizagem que esteja de acordo com a identidade brasileira reduzindo, mesmo que paulatinamente, a replicação de métodos sem a devida adaptação.

Metodologia

As práticas organizacionais realizadas na instituição compreenderam três momentos, sendo a primeira em 2015 baseada na Psicologia do Trabalho (Clot, 2007), a segunda em 2016 baseada na Psicologia da Libertação e a terceira, a Intervenção Trans/formativa em 2017. 

A primeira prática organizacional ocorreu em 2015, foi composta por entrevistas semiestruturadas e grupos focais. Com pressupostos teóricos-metodológicos apoiados na Psicologia do Trabalho, utilizou-se o método da autoconfrontação simples (Clot, 2007), que consiste nas seguintes etapas: 1) criação do grupo voluntário em que foi realizada a análise da atividade; 2) gravação de vídeos; 3) confronto do trabalhador com a gravação de vídeo da sua própria atividade. Portanto, após a realização de entrevistas e grupos focais iniciais, o grupo de serventes teve suas atividades gravadas em vídeo e posteriormente tiveram a oportunidade de assistir aos mesmos e se pronunciar a respeito das imagens. A intenção principal era que cada uma pudesse ter a experiência de se assistir executando suas tarefas, ouvir seus relatos, refletir sobre o que disseram e fizeram e, se necessário, ter a oportunidade de reformular seus conceitos.

O segundo momento ocorreu em 2016, tal prática foi baseada nas premissas da Psicologia da Libertação, principalmente no que se refere a recuperação da memória histórica, com interesse nos elementos identitários do grupo. Se no LM, antes de trabalhar a atividade seria preciso informações acerca desta atividade, então para trabalhar o fortalecimento do sujeito, também seria necessário conhecer minimamente esse sujeito. Além da recuperação da memória histórica, a pesquisa também se interessou em conhecer as virtudes populares e a visão de mundo do grupo, de modo que pudesse contribuir futuramente com a implementação da IT. Os procedimentos metodológicos utilizados neste segundo momento com as zeladoras, foram entrevistas narrativas individuais, grupo focal e observação participante.

Finalmente, em 2017 ocorreu a Intervenção Trans/formativa principal, teve como base a Metodologia de Pesquisa para o Desenvolvimento do Trabalho – PDT, mais especificamente a meta-ferramenta Laboratório de Mudança, por se tratar da proposta metodológica própria da Teoria da Atividade Histórico Cultural. Adicionalmente, foram utilizadas técnicas próprias da Intervenção Ação-Participativa (IAP), modelo metodológico da Psicologia Social Comunitária Latino Americana.

A execução da meta-ferramenta, Laboratório de Mudança, consiste em três níveis: construção da ideia inicial pelos investigadores e representantes da organização e o processo real de intervenção que se divide em duas subtarefas: coleta de dados iniciais para criação do espelho da atividade e planejamento das sessões do Laboratório de Mudança (Virkkunen & Newnham, 2015).

Assim, as práticas realizadas anteriormente, que inclusive já envolviam intervenção com o grupo de zeladoras proporcionaram uma quantidade significativa de informações, tanto sobre a realização do trabalho, como dos sujeitos de pesquisa.

Para complementar a coleta de dados espelho, em 2017, no intuito de compreender a visão da instituição e seus objetivos em relação a atividade da limpeza, foi realizada pesquisa documental e entrevistas semiestruturadas com os seguintes cargos da instituição: diretor geral, diretor de área/administração, fiscais de contrato, chefe do departamento de compras e da comissão de licitação e presidentes das comissões vinculadas à sustentabilidade.

A IT foi composta por 15 sessões, que para reduzir a formalidade foram denominadas Conversas (CV). Tiveram duração de 1 hora cada. Na IT, foram acrescentadas também o que será denominado como visitas extras. Entre as Conversas, à medida que a intervencionista percebia a necessidade, eram realizadas visitas aos postos de trabalhos como uma oportunidade para as participantes complementarem suas falas, tirarem dúvidas sobre as tarefas, entre outros. E serviram de apoio às Conversas.

Assim, foram realizadas as sessões de análise transformação de atividade e fortalecimento do grupo. Para isso, além das técnicas fornecidas pelo modelo do LM, a IT também contou com o apoio da Intervenção-Ação-Participativa (IAP), modelo metodológico da Psicologia Social Comunitária Latino-Americana. A IAP envolve problematização advinda da educação Libertadora de Paulo Freire e foi estabelecida com base na obra Hacer para ransformar: El método em la psicología comunitária, de Maritza Montero (2006).

Nas conversas 1, 2, 3, 4 5 e 6, foram realizados os questionamentos associando as duas dimensões – atividade e sujeitos – simultaneamente. Nas conversas 7, 8, 9 e 10 foram analisados aspectos históricos da atividade e do sujeito. Nas sessões 11, 12, 13, 14 e 15 ocorreu a reconceituação do papel do sujeito e da atividade.

Nesse processo, além de tratar das questões históricas da atividade, a ideia era que os participantes fossem estimulados e tivessem o espaço necessário para tratar de seus próprios dilemas, questões históricas, virtudes, bem como repensar sua atitude conformista, detectada anteriormente.

Público alvo

Profissionais vinculadas a uma Instituição pública de ensino superior, sendo dez zeladoras terceirizadas, uma supervisora terceirizada e uma servidora fiscal de contrato. Além de pesquisadores das áreas de Estudos Organizacionais, Aprendizagem Organizacional, Metodologias e Métodos de Pesquisa e Mudança e Inovação.

Parceiros

Laboratório de Pesquisa Organizacional (LAMO), grupo de pesquisa registrado no CNPQ, e Center for Research on Activity, Development and Learning (CRADLE) da Universidade de Helsinki – Finlândia, Universidade Estadual de Maringá (UEM).

Período de realização

2017.

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